segunda-feira, 10 de março de 2008

Descobrindo o verdadeiro Ensino Religioso nas escolas


Muito me entristeço quando da boca de educadores ouço a seguinte afirmativa: “O Ensino Religioso nas escolas não deve tratar sobre Deus, mas ensinar os valores”. Que pena! Além de conhecerem pouco sobre LDB, não sabem conceituar e situar Deus no processo vital, definindo-o por doutrinas e até O confundindo com elas. Mas o pior ainda está por vir: “ensinar” valores. Uma afirmativa com esta demonstra uma superficialidade filosófica imensurável, uma vez que valores universais não se ensinam e ética não se teoriza. Ambos são processos atitudinais compostos a partir do contexto social e realidade de cada um, e da forma e intensidade com que o sujeito interage consigo, com o outro, com o cosmo e com Deus, motivado pelos valores que permeiam a atividade educativa daqueles que são suas referências.
Sobre Deus, todas as culturas O reconhecem presente em seu dia-a-dia. É uma atitude sábia. Descobrir e identificar o Sagrado constitui a descoberta da essência das coisas, das suas realidades mais profundas, daquilo que está por trás das aparências. E não é esse o objetivo da disciplina Arte-educação? Descobrir os valores contidos nos seres?! Isso está até nas Diretrizes Curriculares de todos os seguimentos da Educação Básica! Além disso, deve ser sabido por todos os educadores que a estética é a área da filosofia que estuda as essências a partir das aparências, avançando sempre rumo à descoberta do núcleo gerador da beleza, que metafisicamente é o Belo, o inexprimível, o inusitado, o original, ou seja, o próprio Deus. O que vemos de cada indivíduo é somente uma imagem daquilo que ele realmente é: pessoa. Portanto, a beleza sinaliza a essência, a origem, o divino, o Sagrado, Deus. Da mesma forma podemos afirmar que os valores exercitados por um indivíduo revelam o caráter, a essência da pessoa. Fica-nos esta pergunta, então: Por que excluir Deus da Escola se Ele é uma realidade presente em toda a sociedade, ou a escola se encontra fora desta última?
De mais a mais, o Divino é muito grande e inatingível para ser aprisionado e definido por dogmas e doutrinas, senão não seria “Deus”, mas “deus”.
Se observarmos a história, quando as famílias ainda priorizavam a oração em seus lares, como, por exemplo, antes das refeições, ao sair para uma viagem, antes de dormir e aos Domingos na Santa Missa ou no Culto, podemos constatar que o respeito para com o próximo e principalmente para com os pais era muito maior, uma vez que por tal atitude, os mais jovens enxergavam nos mais velhos, referências seguras e sensatas de serem seguidas. A catequese começa em casa. Os valores eram ensinados sem ninguém falar sobre eles. Fluíam.
Um outro ponto vale a pena ser pensado: à luz do teórico e psicólogo Vitor Frank, podemos afirmar que o ser humano é formado por três dimensões: a biológica, no que se refere ao corpo; a psicológica, que diz respeito à alma e a noológica, a dimensão espiritual. É ele mesmo que afirma que o caráter reside nesta dimensão, pois é o núcleo de toda pessoa, o que no popular chamamos de coração. Para educar é preciso tocar o coração. Não é, portanto, uma disciplina ou uma teoria que pode resolver os problemas éticos e morais da sociedade, antes, é preciso proporcionar um ambiente em que emane religião (na linha do autor acima citado), de abordagem espiritual, que suscite o Sagrado de cada um, o mesmo que emana das relações fraternas e éticas. Perceba que não é ensinar ética, antes, é despertá-la por meio de relações profundas e fraternas capazes de tocar o íntimo de cada pessoa e, por meio da observação, aqueles que ainda não reconhecem tais valores, espelhem-se nos demais e nas suas relações, o que torna positiva a existência de referências, paradigmas a se inspirar.
O interessante é que quanto mais nos descobrimos, mais conhecemos a Deus que em sua atitude criadora e criativa presenteou-nos com o dom da liberdade, do amor, tornando-nos a sua imagem e semelhança (esta afirmativa já seria suficiente para calar as bocas infames que aprovam a prática do aborto e da eutanásia). Da mesma forma, descobrir a Deus não diminui em nada o sentido de humanidade, pois quanto mais conheço o Eterno que existe em minha natureza humana mais conheço a mim mesmo. O Sagrado revela a verdade da pessoa, pois não somos somente a nossa aparência, “estamos” nossa aparência. Na verdade, existe algo mais profundo na existência de cada um. Na verdade, este fato não nega que o meio e os conflitos que vivem cada um mexem nos seus valores (conforme Marx), mas é de se compreender que no aparente de cada ser encontra-se as trilhas e não as metas, ou seja, a imagem e não o contexto.
Não precisamos ter medo de Deus. Ele emana da fraternidade humana e no bem que nasce no intrínseco de todo homem e mulher, no Sagrado de cada um, ou no noológico - na visão de Vitor Frank, ou no coração, de Jesus Cristo.
Garimpar o Eterno em meio ao acidental de cada um deve ser a obsessão de todo educador. Ver e não só olhar, escutar e não só ouvir deve nosso exercício diário, pois a beleza não passa de uma tela que exibe o resultado dos processos que o Belo faz e provoca em cada um. Só respeitaremos o outro quando o vermos como pessoa. Não há prática de valores e ética se não descobrirmos a fonte da autonomia, da liberdade e do equilíbrio de nossa natureza.
Sem definir nada mas levantando hipóteses, proponho uma reflexão sobre a seguinte frase: “quanto mais somos humanos tanto mais seremos divinos”. Quais as verdadeiras razões de se tirar Deus da escola se em todas as sociedades ele é uma figura presente? Não será que o ser humano tem se negado à grande viagem da cabeça ao coração, por ser mais fácil e conveniente continuar na superficialidade de uma espiritualidade inócua, esotérica e alienada?
Deus se revela à medida que o homem toma posse de si mesmo. O divino é algo próprio do humano. Não dá para negá-lo.
É por tais questionamentos e convicções que acredito ser necessário rompermos com vários "sensos comuns" acerca deste tema e de outros, a fim de termos clareza do que queremos em Educação, evidenciando quais os objetivos e a metodologias mais coerentes com o que desejamos, de forma a contribuirmos com a construção dessa sociedade cidadã e ética realmente possível de ser problematizada na escola e não uma mera repetição dos termos legais que tratam deste assunto.

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